sexta-feira, 1 de maio de 2009



TESES INATISTAS E O ESTUDO
DE AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

O surgimento da modernização dos Estados Unidos da América,na segunda metade do século XX, a emergência das ciências cognitivas, fez, também surgir novas bases para a lingüística, que se firmava como ciência pelas mãos de Chomsky, que trabalhava a linguagem numa nova perspectiva, mais individual do que social, estruturada, natural e inata.

O inatismo atualmente é uma das teorias mais aceitas para se entender o universo do processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, um dos fatos notáveis a cerca da linguagem é a sua ‘criatividade’- a circunstância de aos cinco ou seis anos de idade as crianças serem capazes de produzir e entender um número indefinidamente grande de elocuções das quais não tinham tido prévio conhecimento Chomsky jogou por água abaixo as teses behavioristas para a aquisição e desenvolvimento da linguagem, a primeira no que se refere a imitação, argumentou que [...] “as crianças produzem muitas frases que jamais poderiam ter ouvido adultos produzirem” (Kaufman, 1996, p. 58), como é o caso das crianças americanas, que fazem uso das regras da formação dos verbos regulares no pretérito para os irregulares, falando taked ao invés de took, mesmo jamais nunca ter ouvido ninguém falar dessa maneira.

Em segundo lugar destrói o papel da prática ou imitação, “as crianças, que não consegui imitar, devido a prejuízo neurológico ou físico, ainda aprendem a entender a linguagem e a comunicar-se” (Kaufman,1996, p. 59).

E por fim, em terceiro lugar, a teoria do reforço positivo ou negativo, fica totalmente inutilizada, pois, “[...] já foi indicado que as crianças não parecem receber correções com muita freqüência” (Kaufman, 1996, p. 59), serve como exemplo, em alguns casos a não pronuncia do fonema /r/, como acontece na palavra Taperuaba, pronunciada: /t/ /a/ /p/e/ /r/ /u/ /a/ /b/ /a/, pelos adultos e, /t/ /a/ /p/ /e/ /u/ /a/ /b/ /a/ por algumas crianças. Mesmo recebendo o reforço para falar da forma convencional “[...] isso não parece ser muito eficaz em mudar o enunciado da criança, quando a forma correta está acima de seu conhecimento gramatical” (Kaufman,1996, p. 59).

Sendo assim Chomsky nos propõe uma metáfora para compararmos o processo inatista de aquisição da linguagem chamada metáfora da fechadura, explicada por Del Ré (2006, p. 20): [...] cada criança nasceria com uma fechadura, pronta para receber uma chave; cada chave acionaria a aquisição de uma língua diferente, daí todas nascerem com a mesma capacidade e poderem adquirir as mais diferentes línguas.

A mesma autora (2006, p. 20) nos propõe três perguntas que vamos tentar elucidá-las, ela invoca “Mas como isso acontece? Como esse conhecimento lingüístico emerge? Se existe então uma capacidade inata, como se chega a isso?”
Ora, Chomsky usa o conceito de gramática Universal, que tenta explicar a organização das línguas nos seus aspectos em comum “de acordo com essa proposta, a criança tem uma Gramática Universal (GU) inata que contém as regras de todas as línguas, e cabe a ela, criança, selecionar as regras que estão ativas na língua em que está adquirindo”. (Santos, 2002, p. 221).

Como a linguagem é algo biologicamente determinado, dentro de uma Gramática Universal, estrutura de todas as línguas, para os psicólogos Krech e Crutchfield (1980, p. 119-120): “Alguns pesquisadores sugeriram que, nos dois ou três primeiros meses de vida, os nenês, emitem todos os sons que a voz humana pode produzir, inclusive, os sons vibrantes do francês e os sons guturais do alemão. No início estão os sons universais!”. E ainda: “com exceção de cinco consoantes, a amplitude de vogais, ditongos e consoantes, anotadas no grupo de crianças surdas, incluem todos os sons da língua inglesa normal” (Heider, 1940, apud, Krech e Crutchfield, 1980, p. 120).

Porém, depois de alguns meses, no contato com os falantes nativos, as crianças começarão a descartar os sons inúteis para a sua língua materna, e assim do mesmo modo em que os bebes nascem biologicamente dotados de todos os fonemas que o ser humano pode produzir de forma universal, também possui, em sua mente as estruturas de organização da fala, impedindo que elas cometam erros absurdos, como, por exemplo, na formulação do enunciados.

Chomsky trata em seus trabalhos do conceito de (a) gramaticalidade, levando em conta a intuição, criatividade e competência inata do falante, isto é,possuímos um conhecimento a priore sobre o funcionamento lingüístico geral, esclarecido na palavra de Del Ré (2006, p. 20) “[...] faz parte de sua competência lingüística saber quais os princípios envolvidos na estruturação de sentenças de sua língua é o fato de até mesmo crianças não cometerem certas violações do tipo ‘* Casa ir não eu posso para (Eu não posso ir para casa)”.
A criança dotada da Gramática Universal, possuindo um certo nível de (a) gramaticalidade, é possível a ela gerar novas e infinitas sentenças, mesmo que nunca as tenha ouvido antes, através de sua intuição e habilidade, consegue desenvolver o artefato que sempre esteve latente em seu cérebro, chamado de linguagem, daí Chomsky dar o nome a esse processo de gramática Gerativa Transformacional.

Parece-nos até aqui, ser indiscutível todos esses conceitos, porém fica-nos a reflexão, que parte do preceito de que se tudo (no campo da linguagem) é herança biológica, a criança não pode ou não é compreendida como sujeito ativo do processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, Chomsky, infelizmente, não leva em conta o papel do conhecimento adquirido no aprendizado da língua pela criança (Del Ré, 2006).

Todavia, não podemos deixar de acentuar que definitivamente “a linguagem como capacidade de expressão dos seres humanos é natural, isto é, os humanos nascem com uma aparelhagem física, anatômica, nervosa e cerebral que lhes permite expressarem-se pela palavra” (Chauí, 2001, p. 140).

Fonte: www.filologia.org.br

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